A Rota dos 88 Templos: Conheça as etapas de significativa peregrinação no Japão
A Rota dos 88 Templos é uma das peregrinações mais encantadoras e significativas do Japão. Parte do Projeto Caminhos Peregrinos, que chegou a 80% de conclusão em 2023, essa rota está situada na pitoresca ilha de Shikoku, a quarta maior do país. É uma jornada que combina desafios físicos e uma rica exploração espiritual, celebrando a história, cultura e o povo locais.
Diz a lenda que a rota foi criada por Kōbō Daishi, o monge que fundou a escola Shingon do Budismo. Cada um dos 88 templos ao longo do caminho representa um aspecto único da doutrina budista, e a peregrinação é vista como uma maneira de purificar os 88 pecados humanos. Mais do que apenas uma caminhada, a rota é um testemunho do legado de Daishi e sua busca constante pela iluminação.
DESPERTAR: Shikoku como processo de transformação
Shikoku, a quarta maior ilha do Japão, é composta por quatro províncias encantadoras: Tokushima, Kochi, Ehime e Kagawa. Essas províncias abrigam os 88 templos que compõem a famosa rota de peregrinação.
- Tokushima, geralmente o ponto de partida, é conhecida por suas belas paisagens montanhosas e os dançarinos do Awa Odori. Aqui, começa a jornada com o Templo Ryozenji, onde os peregrinos iniciam sua viagem espiritual.
- Kochi, com suas longas praias e rios cristalinos, oferece uma conexão profunda com a natureza. Os templos em Kochi, como o famoso Chikurinji, estão cercados por florestas exuberantes, proporcionando momentos de meditação e introspecção.
- Ehime é famosa por seu castelo e as termas de Dogo Onsen. Os templos em Ehime, como o Ishiteji, são conhecidos por sua história rica e arquitetura impressionante, cada um contando histórias antigas e ensinando lições valiosas.
- Finalmente, Kagawa, a menor das quatro províncias, mas não menos impressionante. Aqui, os peregrinos visitam o Templo Okuboji, o último da rota para muitos. Kagawa é também famosa por sua culinária, especialmente o udon.
A rota é circular, totalizando cerca de 1200 quilômetros de belas paisagens, montanhas desafiadoras e cidades históricas. Cada templo possui sua própria história, ensinamentos e mistérios, tornando cada visita uma experiência única.
Os ohenro, ou peregrinos, seguem essa jornada vestidos de branco, carregando seus chapéus cônicos e bastões de caminhada, colecionando selos e caligrafias dos templos. Esses itens simbolizam proteção, determinação e a presença contínua de Kōbō Daishi, acompanhando cada passo do caminho.
A Generosidade do Osettai em Shikoku
Na peregrinação por Shikoku, a caminhada traz consigo uma imersão profunda em interações humanas. Na essência desta destaca-se uma prática tradicional chamada osettai, que exemplifica a generosidade.
O osettai é um gesto de gratidão, de reconhecimento pela jornada espiritual e de honra à busca pela iluminação. Essa prática fortalece os laços entre os peregrinos, que seguem os passos de Kūkai, e a comunidade local.
Durante a peregrinação, os peregrinos experienciam uma hospitalidade calorosa, desde refeições quentes até apresentações musicais exclusivas. Essa prática reflete a ideia budista de acumulação de méritos, beneficiando tanto o doador quanto o receptor, e criando uma rede de interdependência e compaixão.
Os moradores oferecem aos peregrinos presentes variados: arroz, frutas, chás, biscoitos, chocolates, sucos, flores e até música. Segundo a tradição e os valores religiosos, os peregrinos não devem recusar essas ofertas, gerando uma reflexão sobre merecimento e como retribuir aos outros e ao planeta.
A diversidade do osettai é bela, cada presente carregando a essência de quem o oferece. Pode ser uma refeição simples, uma música ou uma fruta fresca de um agricultor local. Esses gestos simbolizam a bondade humana, fortalecendo os laços de interdependência e compaixão entre doadores e receptores.
ACETISMO: Os desafios Rota de Shikoku
A Rota de Shikoku é famosa por sua dificuldade. Os peregrinos enfrentam terrenos acidentados, montanhas íngremes e longas distâncias, confrontando medos e inseguranças muitas vezes ignorados no cotidiano. A autodisciplina é essencial e se desenvolve com prática constante. Buscar a iluminação requer esforço, sinceridade e um compromisso profundo com a transformação pessoal. Os desafios de Shikoku não são apenas físicos, mas também espirituais e emocionais, proporcionando uma oportunidade única para os peregrinos se reconectarem com seu propósito e fortalecerem seu compromisso com a própria evolução.
O Kongozue: O Bastão de Caminhada do Peregrino
O kongozue, ou bastão de caminhada do peregrino, é um dos símbolos mais icônicos da peregrinação em Shikoku. Sua importância vai além de ser apenas um apoio físico; ele representa equilíbrio, força e a presença do monge Kūkai, acompanhando o peregrino em sua jornada. É mais do que um instrumento de caminhada; ele é um símbolo de fé, determinação e a contínua presença de Kūkai ao lado do peregrino.
Ao adquirir o bastão, é uma prática comum gravar o nome no kongozue. Os peregrinos costumam adquirir o bastão no primeiro templo antes de iniciar a rota, muitas vezes acompanhados de inscrições ou orações que reforçam seu significado espiritual.
Durante a peregrinação, o kongozue é tratado com grande respeito. Ele nunca deve ser colocado no chão de forma descuidada. Quando não está em uso, deve ser apoiado com a empunhadura voltada para cima. Esse cuidado serve como um exercício de atenção e respeito. Ao entrar nos templos, o bastão é usado para anunciar a chegada do peregrino, e muitos o levantam ao sair, como uma forma de agradecimento.
ILUMINAÇÃO: Uma busca interior
A peregrinação pelos 88 templos de Shikoku é uma aventura espiritual única que mistura desafios físicos com um profundo crescimento interior. Após passar pelas fases do Despertar e do Ascetismo, a etapa da Iluminação é essencial na busca interior. A Iluminação ajuda a libertar a mente de ilusões e desejos, permitindo que o peregrino transcenda o ego. Cada templo visitado oferece momentos de reflexão sobre os ensinamentos de Kōbō Daishi, enquanto a caminhada dissolve gradualmente o ego, substituindo-o por uma consciência expandida e a sensação de ser parte do todo.
As paisagens encantadoras de Shikoku intensificam a conexão com a natureza, tornando-a uma expressão viva da existência. Muitos peregrinos relatam experiências místicas, indicando a proximidade da verdadeira Iluminação. Essa fase é uma preparação para o Nirvana, proporcionando clareza, compreensão e compaixão. Em resumo, a Iluminação é uma transformação interior significativa que leva o peregrino a uma comunhão única com o universo, preparando-o para culminar sua jornada espiritual.
NIRVANA: a libertação dos desejos peregrinos
Chegar ao Nirvana na Rota dos 88 Templos em Shikoku marca o fim de uma jornada incrível de autoconhecimento e iluminação. Completar essa fase traz paz interior e a libertação do ciclo de renascimento, mostrando a natureza cíclica da vida. O Nirvana simboliza a libertação do sofrimento, superando o ciclo de nascimento e morte e trazendo serenidade. Nesse estado, o peregrino se liberta de desejos e inquietações, compreendendo profundamente a interconectividade de todas as coisas e encontrando clareza e harmonia. Tradicionalmente visto como o ápice da transcendência, o Nirvana leva a um novo despertar, mostrando que o aprendizado e crescimento continuam. A vida segue com novos desafios, e os peregrinos devem estar prontos para enfrentá-los com toda a sabedoria adquirida em sua jornada.
A Rota dos 88 Templos em Shikoku é uma jornada inesquecível, repleta de desafios e recompensas espirituais. Explorando os templos históricos, vivenciando a generosidade do osettai e superando os obstáculos do caminho, cada passo dessa peregrinação oferece uma conexão profunda com a história, a cultura e a alma do Japão. Essa experiência transformadora permanece no coração dos peregrinos, inspirando crescimento pessoal e espiritual.
Para quem busca uma aventura que vai além do físico, a Rota dos 88 Templos é um verdadeiro convite para descobrir a essência da verdadeira peregrinação. Até a próxima, aventureiros!
