Para um Caminho de Santiago não se diz “adeus”
A viagem que fiz para o Caminho de Santiago me fascinou. Eu credito que fascina quase todos que o fazem. É uma viagem transformadora e, com propósito ou despropositadamente, o exercício de caminhar vai gerando dentro da gente algo novo. Vamos buscando mais e mais em cada quilômetro percorrido e uma gama de conhecimento, sentimentos e realizações acabam tomando parte do nosso corpo e nos revela algo de novo a todo instante. Acredito que raros seriam os peregrinos que discordariam disso.
Se envolver com o Caminho é para sempre! Não tem essa de dizer que me envolvi no passado e agora nem penso mais a respeito. A busca por informações antes da partida já é o primeiro laço que o Caminho lhe dá. Dalí pra frente é querer mais , fazer mais e viver mais o Caminho e por isso uma única vez acaba não sendo suficiente para muitos ou quase todos peregrinos.
Li uma frase de um amante do Caminho chamado Jorge Cárceres que dizia: “Quando um peregrino vai pela primeira vez para o Caminho de Santiago, tem como desafio uma quantidade de quilômetros que nunca viu pela frente e se prepara para enfrentá-los. Depois de terminada a jornada, volta para a sua casa e mentalmente sabe que um dia voltará. Isso chega a ser um pensamento diário… No seu dia a dia o peregrino começa enfrentar desafios no seu trabalho, na sua vida e percebe que ainda há caminhos aqui que percorrer e não são nada fáceis, muito menos prazeirosos. Encarar de frente os desafios do nosso cotidiano e, acima de tudo, superá-los nos dá uma certeza: um novo Caminho já está começando e a cada amanhecer a distância diminui até o dia que os seus pés estarão em Saint Jean Pied de Port.”
Parece um vício e eu acredito nisso. Parece que ele nos planta uma semente que cresce e fortifica dentro de nos mesmo. Sabemos do peso da mochila nas costas dos nossos dias da “vida real” e se fortalecer naquilo que acreditamos dá ainda mais coragem para enfrentar os desafios da vida.
O esforço físico é momentâneo e logo passa. Fica para trás! As bolhas se recuperam, as pernas voltam a estar fortes, o cansaço superado e na contra mão, vem a nostalgia. Ver suas fotos, relembrar passagens com amigos, deitar a cabeça para uma noite de sono e deixá-lo afastar para que você tenha um momento com suas conquistas e aprendizados do caminho. A síntese do “Recordar é viver”, cantada em tom alegre em marchinha exemplifica bem a mistura do que vivemos de concreto e de fantasia nas estradas do Caminho.
Perceber que tudo pode ser feito novamente, com outros olhos, em outro momento e com outro propósito quem sabe, nos faz querer cada vez mais entranhar pelas estradas empoeiradas e pelas calçadas históricas do caminho. Pretender colher novos olhares, respirar novas histórias, viver uma nova festa e voltar com mais bagagem maior. Bagagem que não pesa, que não se perde ou se rouba.
Esses tantos quilômetros percorridos jamais estarão por completos na sua mente. Como não registramos tudo facilmente ele será novo e único. Portanto, tente viver novas emoções, dormir em cidades diferentes, escolher albergues que outrora não foram conhecidos, mude a rotina e os horários e escolha outra estação do ano se possível. Fazendo assim, tenho certeza que posso lhe desejar um “buen camino” como se fosse para quem está indo pela primeira vez e continue acreditando que o aprendizado está no caminho e não no destino!
Não se esqueça de quando embarcar em Santiago para retornar para casa dizer apenas um: “até breve”.
“Buen camino” peregrino!
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