Os rituais de Shikoku: costumes e tradição da Rota dos 88 Templos

9 de janeiro de 2025 Antonio JR

A Rota dos 88 Templos: Conheça as tradições e ritos desta peregrinação pelo Japão

A Peregrinação em Shikoku é cheia de tradições e simbolismos que enriquecem profundamente essa jornada. Sejam rituais ou a tradicional vestimenta dos peregrinos, esses costumes são cruciais para que o peregrino se sinta verdadeiramente imerso na experiência, além de servir como uma demonstração de gratidão e respeito. 

Adotar a vestimenta tradicional, que inclui o chapéu cônico, o jaleco branco e o bastão de caminhada, não é obrigatório, mas faz toda a diferença na imersão da jornada. Logo no início, muitos peregrinos optam por adquirir esses itens, que não só enriquecem a experiência pessoal, mas também fortalecem a conexão com a história e a cultura da peregrinação de Shikoku, tornando cada passo ainda mais significativo.

O Chapéu (Sugegasa)


O sugegasa é o tradicional chapéu cônico usado pelos peregrinos em Shikoku. Confeccionado com bambu, o sugegasa é leve e ventilado, proporcionando conforto e proteção contra o sol e a chuva durante a caminhada. Além de sua função prática, o sugegasa possui um profundo simbolismo. Ele representa a humildade e o espírito de simplicidade dos peregrinos, refletindo a essência do caminho espiritual. Este chapéu não só identifica os peregrinos, mas também conecta-os às tradições antigas da peregrinação, tornando-se um emblema visível do respeito e da devoção que permeiam cada passo da jornada.

O Jaleco Branco (Dōchu-gi)

O dōchu-gi é um jaleco branco que os peregrinos usam durante a peregrinação em Shikoku. Esse jaleco representa pureza e humildade, duas qualidades fundamentais na jornada espiritual. A cor branca do dōchu-gi também tem uma associação cultural importante no Japão, sendo ligada ao luto. Isso reflete a intenção do peregrino de deixar para trás antigos hábitos e renascer espiritualmente. Vestir o dōchu-gi não é apenas uma escolha prática, mas um símbolo poderoso de transformação e dedicação à busca pela iluminação, tornando-se um elemento essencial da experiência do peregrino.

O Bastão (Kongōzue)

O kongōzue é um dos símbolos mais icônicos da peregrinação em Shikoku. Além de ser um apoio físico, ele representa equilíbrio, força e a presença espiritual do monge Kūkai. Peregrinos geralmente gravam seus nomes no bastão ao adquiri-lo no primeiro templo, muitas vezes acompanhado de inscrições ou orações espirituais.

Durante a peregrinação, o kongōzue é tratado com grande respeito. Ele nunca deve ser colocado no chão de forma descuidada e deve ser apoiado com a empunhadura voltada para cima quando não está em uso. Ao entrar nos templos, o bastão é usado para anunciar a chegada do peregrino, e muitos o levantam ao sair como forma de agradecimento. Esse cuidado com o kongōzue simboliza a devoção e o respeito ao longo da jornada espiritual.

Livro para Caligrafias e Carimbos (Noukyou)

O noukyou é um livro especial que os peregrinos levam para colecionar caligrafias e carimbos de cada templo visitado. Esse livro se transforma em um registro pessoal da jornada espiritual, representando a acumulação de méritos e a profunda conexão com cada local sagrado. O noukyou não é apenas um acessório, mas um símbolo de respeito e devoção, enriquecendo a experiência da peregrinação. Cada carimbo e caligrafia capturam a essência única dos templos, tornando o livro um tesouro espiritual que os peregrinos guardam com carinho ao longo de toda a sua jornada.

Os costumes ritualísticos de Shikoku

Neste caminho por Shikoku, os peregrinos visitam 88 templos, cada um com sua própria singularidade. Há um ritual que a maioria dos peregrinos seguem, muitos dos quais são japoneses e já estão familiarizados com essas práticas. Aqueles de outras culturas se adaptam e devem estar atentos a cada parada, imergindo-se na experiência e respeitando as tradições locais.


Reverência ao Templo
: No portão de entrada, faça uma leve inclinação para demonstrar respeito e seu desejo de orar. A reverência no portão principal é a mais apropriada, mesmo que alguns templos permitam a entrada pelo estacionamento.

Purificação: No chozuya, use uma concha para lavar as mãos e enxaguar a boca, simbolizando a limpeza interna e externa. Despeje água na mão esquerda, depois na direita, e na boca. Evite desperdício; o importante é a intenção e o respeito.

Toque do Sino: Com o manto no pescoço e o rosário nas mãos, toque o sino uma vez para iniciar a oração, especialmente onde é permitido chamar a atenção do Buda. Segure a corda após tocá-lo para evitar que volte a tocar. Evite horários inadequados para não perturbar os vizinhos.

Entrega de Desejos: No caminho ao salão principal, oferte velas, incenso e dinheiro. Acenda uma vela e, em alguns casos, um incenso, antes de ir ao salão principal para colocar os sutras e contribuições na caixa. Anote a data, o nome e o endereço no ingresso e prepare alguns antecipadamente para facilitar o processo. Algumas pessoas escrevem desejos ou o Sutra do Coração no verso.

Leitura: Esta é a parte central do ritual. Junte as mãos em prece, segure o sutra (mesmo que tenha memorizado) e recite-o, focando na imagem de Kūkai. Durante a recitação, observe e reflita sobre as ações dos outros peregrinos, aproveitando para agradecer e pedir respeitosamente.

Adoração: Após recitar o sutra, com a mente tranquila, vá ao Salão Daishi-do para uma oração adicional. É comum que todos os 88 templos possuam um salão principal e um Daishi-do, onde são repetidos os passos anteriores. Se houver outros templos no local, considere visitá-los também.

Carimbo: Após visitar o santuário, vá ao Nokyo-jo para ter seu livro noukyou escrito e carimbado. Você também receberá uma imagem principal do templo para guardar em um livro ilustrado. Os custos variam entre 200 e 500 ienes, dependendo do item. Alguns peregrinos optam por não seguir essa formalidade rigorosamente, permitindo que a jornada vá além do registro.

Saída do Templo: Ao sair, faça uma reverência final para expressar gratidão pela conexão estabelecida com o Buda.

 

Explorar a Rota dos 88 Templos em Shikoku é uma jornada espiritual e cultural profunda, rica em tradições e simbolismos. Cada ritual e parada oferecem uma oportunidade para introspecção e conexão com a história e cultura do Japão. Para quem busca uma aventura que vai além do físico, essa peregrinação é um convite para descobrir a essência da verdadeira peregrinação.

Pronto para embarcar nesta jornada? Deixe-se levar pela serenidade e sabedoria que cada templo tem a oferecer. Boa peregrinação!

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Antonio JR

Sou um amante da natureza e de esportes outdoor. Corredor de montanha, sou um aficionado por trilhas e terrenos acidentados. Tenho um carinho por tudo que envolve arte e a música é outra atividade que me libera endorfina. Um apaixonado pelo mundo, acredito no poder transformador de cada viagem e com elas adquiro vivência e experiência para minha vida.

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