O que é a Marcha do Sal na Índia
Há caminhos pelo mundo que são rotas verdadeiramente inspiradoras. Dentre os mais de cinco mil quilômetros que já caminhei, um dos que mais me impactou nessa jornada foi a Marcha do Sal, na Índia.
Aliás, a Marcha do Sal foi um divisor de águas que mudou toda a minha perspectiva de mundo. Não só pela diferença nos costumes, mas falando social e culturalmente, a Índia me mostrou coisas para as quais eu não olhava atentamente.
Enfim, sem mais delongas, vem comigo que te conto mais sobre esse caminho icônico.
O que é Marcha do Sal
A princípio, a Marcha do Sal vai além de ser uma rota de caminhada. Esse caminho histórico representa uma vitória para todo o mundo, visto que foi caminhando por esse trajeto, que liga a cidade de Ahmedabad à cidade de Dandi, que Gandhi mostrou como um simples ato pode mudar todo o curso de uma nação.
Portanto, é mais simples do que você imagina: a Marcha do Sal foi um movimento feito por Gandhi e uma multidão de indianos a fim de conquistar a independência do país e seus direitos sobre um dos seus principais recursos naturais: o sal.
História da Marcha do Sal
Até a década de 1940, a Índia era uma colônia dominada por britânicos. Todo o território da colônia era explorado para que estes pudessem fazer a extração e comercialização de sal.
Porém, havia uma lei que proibia os próprios indianos de extrair e comercializar o sal. Assim, eles eram obrigados a pagar altos tributos e impostos para as autoridades britânicas e qualquer um que ousasse infringir a lei, teria a prisão como punição.
Antes de iniciar a Marcha do Sal, Gandhi era advogado, carreira que não foi tão bem sucedida em sua vida, porém, um dos pilares de sua filosofia era sempre prezar e insistir pela verdade. Vendo a realidade de sua colônia, ele decidiu agir.
Assim, em 12 de março de 1930, com 61 anos de idade, Gandhi iniciou a Marcha do Sal, conhecida na Índia por Dandi Path. A caminhada de aproximadamente quatrocentos quilômetros ligava as cidades de Ahmedabad até Dandi, unindo um número cada vez maior de pessoas a cada cidade em que passava.
Caminhar foi um ato pacífico que não infringiu as leis britânicas e arrastou até Dandi milhares de pessoas. Gandhi não as obrigava a caminhar com ele. A própria população, concordando com os ideais do líder, começavam a segui-lo espontaneamente.
Durante toda a caminhada, nenhum ato violento foi cometido por parte dos indianos, pois Gandhi acreditava que a busca e insistência pela verdade deveria partir de atos não violentos.
Ao chegar na praia de Dandi, Gandhi apanhou com as mãos um punhado de sal, motivando seus seguidores a fazer o mesmo. Por esse ato de desobediência, Gandhi finalizou ali a Marcha do Sal por ser preso pelas autoridades britânicas junto com outros milhares de seguidores.
Enfim, mesmo sendo preso por incitar a desobediência, Gandhi mostrou ao mundo que lutar pela liberdade e pelos próprios direitos é possível sem um minúsculo ato violento. Dessa forma, ele uniu pessoas de diversas religiões, regiões, idades e classes, chamou a atenção do mundo e deu o primeiro passo para a liberdade de uma nação inteira.
A filosofia da Marcha do Sal
A Marcha do Sal é também conhecida como Sal Satyagraha ou Dandi Satyagraha. Essa palavra é o principal fundamento da marcha, pois satyagraha, significa literalmente “insistir pela verdade”.
Gandhi e seus seguidores eram praticantes da satyagraha e, por isso, são conhecidos como satyagrahis, cuja filosofia é resumida em se recusar a fazer o que é errado ou cooperar com algo errado de qualquer maneira.
Assim, os satyagrahis sempre devem agir em prol da verdade, sem aderir à violência, pois partir para a violência é perder a razão, independe de ser uma causa civil ou política, estendendo-se para os atos do dia a dia. Assim, satyagraha vai além de buscar uma conquista: no fim, não há derrota ou vitória, mas sim uma nova harmonia.
Foram os ensinamentos satyagraha de Gandhi e a Marcha para Dandi que tiveram uma influência significativa em ativistas americanos, como Martin Luther King Jr., no Movimento dos Direitos Civis dos afro-americanos e outros grupos minoritários na década de 1960.
Dandi Path atualmente
Hoje, praticamente todo o percurso da Marcha do Sal é habitado, com poucos lugares sem trânsito ou moradias. Estar em meio ao dia a dia dos indianos me mostrou uma realidade totalmente aquém da que vivi em todas as outras peregrinações, despertando em mim um sentimento diferente.
Costumo dizer que a caminhada nos leva para dentro, mas a Marcha do Sal trouxe uma outra perspectiva: ainda que introspectiva, é preciso que sejamos menos egoístas e saibamos olhar para o outro. Há um mundo lá fora que não conhecemos e há conquistas enormes a serem realizadas ainda.
Conto com mais detalhes sobre a Marcha do Sal no livro do projeto Caminhos Peregrinos, que já pode ser reservado aqui.
Livros do Autor - Antonio Jr.
